Capa: É falso que mulheres consumiram ovos de tênia pra emagrecer

É enganoso vídeo que diz que mulheres consumiram ovos de tênia para emagrecer

Informação foi publicada pelo jornal O Globo e viralizou em redes sociais

Produção: Gerson Rodrigues, Isaac de Souza Mendes, João Vitor de Jesus Pimentel, Andressa Bueno, Briana Silva, Ludmila Capuzzo, Hayane Bonfim, Junia Gabriela, Isadora Martins Otto, Elisama Ximenes e Mariza Fernandes

 

Em outubro de 2024, diversos jornais no Brasil veicularam o suposto fato de que mulheres estariam consumindo ovos de tênia com o objetivo de emagrecer, a partir de pílulas adquiridas na Dark Web. No dia 16 de outubro, o Jornal O Globo publicou a história de uma mulher que teria adquirido a pílula e tido complicações.

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As alegações se originaram a partir de um alerta publicado por um suposto médico na plataforma de streaming, Youtube, pelo canal de nome Chubbyemu. Após a viralização da postagem original e a veiculação por parte dos jornais, o assunto virou pauta também em redes como TikTok, Instagram e X (antigo Twitter).

A verificação realizada pelo OJU concluiu que a fonte principal não se trata de um médico, mas de um doutor em farmacologia que produz vídeos com dramatizações de supostos casos médicos no Youtube, com o objetivo de obter engajamento. A própria biografia do canal afirma: “Essas são variações de casos que nós, ou nossos colegas, vimos no passado”.

Histórico

O primeiro a publicar a informação de que mulheres teriam comido ovos de tênia foi o canal do Youtube Chubbyemu, do farmacólogo Bernard Hsu, no dia 27 de agosto de 2024. Cerca de quase 2 meses depois, em 16 de outubro, o jornal O Globo publicou a notícia com o título “Mulheres estão comendo ovos de tênia comprados na dark web para perder peso; veja o que isso faz com o cérebro”.

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Na matéria do O Globo, que não foi assinada, Benard é citado como um especialista em câncer nos Estados Unidos que teria apresentado nas redes sociais – não explicitando quais e também não mencionando seu canal no Youtube – o caso de uma mulher de 21 anos, chamada de “TE”, que teria comprado uma caixa de pílulas contendo ovos de tênia pela internet, entretanto não retorna e nem detalha a informação que teria sido na Dark Web.

Sendo propagada rapidamente no TikTok, Instagram e X, a notícia gerou comoção devido ao retorno dos padrões estéticos inalcançáveis que proporcionaram o crescimento das vendas de medicamentos para o emagrecimento rápido. 

Como investigamos:

Após o contato com uma peça noticiosa suspeita, rastreamos as menções sobre a compra de ovos de Taenia Solium em diversas redes sociais. A postagem mais antiga encontrada foi do vídeo “A Woman Ate Dark Web Bought Tapeworm Eggs To Lose Weight. This Is What Happened To Her Brain. - YouTube”.


O conteúdo apresentado pelo farmacêutico Bernard Hsu apresenta uma espécie de simulação do consumo dos ovos baseadas no artigo científico “Case Report: Disseminated Cysticercosis due to Intentional Ingestion of Parasitic Worm Eggs for Weight Loss in: The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene Volume 106 Issue 2 (2022)”. Não há menção alguma ao termo “Dark Web” nas referências presentes no vídeo, incluindo o artigo publicado. Além disso, o caso reportado não cita nenhum tipo de compra de ovos do parasita.


O canal possui outro episódio estruturalmente parecido, publicado em 2021, cuja bibliografia também não envolve compras na “Dark Web”. Vídeos de casos hiperbolizados são misturados a vídeos baseados em casos reais, o que traz ambiguidades na apresentação de ambos.

Currículo

A biografia do twitter de Hsu, rastreada por meio da ferramenta WayBackMachine em meados de 2020, também de tom ambíguo, dava a entender que ele tinha graduação em medicina. Hoje, é possível encontrar o texto reformulado, sem o mesmo tom.

Outra informação presente na bio era a de que Bernard Hsu leciona na Universidade de Illinois há quase 4 anos. Entretanto, seu nome não está presente no corpo docente da Faculty Carle Illinois College of Medicine ou da University of Illinois Chicago (checamos todos os departamentos).Emails perguntando sobre um possível vínculo institucional foram encaminhados para Hsu e às organizações. Até o momento, nenhum foi respondido.

Segundo um paper da "Novo Nordisk Industry Practice Pharm.D. Fellowship", Bernard Hsu não é médico, é farmacólogo com doutorado em farmácia (PharmD) pela “University of Illinois”. Não foram encontradas pesquisas que comprovem o passado vínculo estudantil.

Vale ressaltar que, nos Estados Unidos, “PharmDs” podem gerenciar tratamentos farmacológicos, ajustar doses, e, em alguns casos, prescrever medicamentos em parceria com médicos. As leis variam entre os estados dos EUA, e alguns permitem uma autonomia maior.

Fonte: OJU - Observatório Jornalístico Universitário

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